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15/06/2019

Resenha: Canção de Ninar - Leïla Slimani

Título original: Chanson douce
Gênero: Thriller/Suspense
Páginas: 192
Editora: Tusquets Editores
Classificação: 5/5
Comprar: Saraiva
O livro Canção de Ninar, - best-seller internacional e vencedor do Prêmio Goncourt -  de autoria da franco-marroquina Leïla Slimani, nos traz um suspense interessante, que vai se descortinando num ritmo crescente e se pauta, sobretudo, nos relacionamentos interpessoais. Abordando questões como maternidade, vida profissional e confiança no outro e também em si mesmo, a autora foi muito feliz em construir sua trama, que tem um clima de mistério inebriante, obscuro e com personagens intrinsecamente intrigantes.

Mesmo com a forte oposição do marido, Myriam, mãe de duas crianças pequenas, decide voltar ao mercado de trabalho em um escritório de advocacia. Para tanto, o casal inicia uma rigorosa seleção em busca da babá perfeita e se encanta com Louise, uma mulher discreta, amorosa e educada, longe de qualquer suspeita. Quase que de imediato, ela se dá bem com as crianças, além de manter a casa sempre limpa e ficar até mais tarde no serviço. Entretanto, a relação que parece ser de mútua dependência entre a babá e seus patrões acaba se deteriorando e dando início a pequenas frustrações, que acabam culminando em uma terrível tragédia...


Repleto de tensão logo em suas primeiras páginas, Canção de Ninar nos traz um thriller de suspense crescente e com uma abordagem bem cotidiana e contemporânea, tratando de temáticas como preconceito de classes e de etnias, relações de poder, o papel da mulher em meio a modernidade e as cobranças que envolvem a maternidade. Narrado em terceira pessoa de uma forma bem ampla e próxima do leitor, o livro nos desperta inúmeras indagações e chama a atenção para as milhares de mazelas que assolam a nossa sociedade.

Myriam é como qualquer mulher do século XXI, que busca plena realização tanto na vida pessoal quanto na profissional. Mãe e esposa dedicada, ela se sente sufocada dentro de casa e decide voltar para o mercado de trabalho mas, para isso, faz uma rigorosa seleção para encontrar a pessoa adequada para ficar com os seus filhos. Suas angústias e frustrações estão presentes ao longo do enredo com profunda alegoria, sintetizando não só a construção da personagem em si como também suas atitudes e estratagemas durante a história. Um dos pontos cruciais da trama é quando a relação de carinho e gratidão que ela tem pela babá acaba sofrendo pequenas rachaduras, tanto pelo excesso desenfreado de Louise por economia, quanto por seu apego quase que doentio com as crianças e afazeres do lar. A antipatia vai se arraigando pouco a pouco no relacionamento da patroa com a empregada, resultando em desconfiança mútua, com uma boa dose de obsessão.

Louise é a síntese perfeita do arquétipo de uma boa babá: amorosa, dedicada, educada e prestativa. As crianças a adoram e os patrões estão sempre gratos pela sua desenvoltura e pró-atividade em cuidar dos afazeres e limpeza do lar. Porém, por trás deste verniz brilhante e quase que impermeável, se esconde uma mulher triste, amargurada e com uma profunda escuridão dentro de si. Ela se apegou à essa família como se eles fossem a sua tábua de salvação em alto-mar e cuida das crianças como se eles fossem os seus próprios filhos e, de certa forma, aplacassem a solidão que ela traz arraigada dentro de si. Conhecer os seus fantasmas foi um dos momentos mais angustiantes da trama e que revelaram também o profundo vazio em que a nossa sociedade está emergida, sofrendo calada até que a dor desponta com força total pela superfície.

"A solidão agia como uma droga da qual ela não sabia se queria se abdicar. Vagava pela rua, desconcertada, os olhos tão abertos que doíam. Na solidão, ela começou a olhar para as pessoas. A vê-las de verdade. A existência dos outros se tornou palpável, vibrante, mais real do que nunca. Observava nos menores detalhes os gestos dos casais sentados nos terraços. Os olhares oblíquos dos velhotes abandonados. A afetação dos estudantes que fingiam estudar, sentados no encosto de um banco. Nas praças, na saída de uma estação de metrô, reconhecia o estranho desfile dos que estão perdendo a paciência. Esperava com eles a chegada de alguém. A cada dia ela reencontrava os companheiros de loucura, falantes solitários, malucos, mendigos. A cidade, nessa época, estava cheia de loucos."

Em síntese, Canção de Ninar é um thriller de suspense interessante, bem escrito e com uma teia de mistério que te envolve do início ao fim. Apesar de ter achado que a autora guardou o supra sumo da história somente para o final, o enredo tem muitos elementos que conseguiram chamar a minha atenção, especialmente a abordagem quase que psicológica feita em torno de suas personagens e de suas linhas de raciocínio. A capa é simples e nos traz a foto do busto de uma babá uniformizada e a diagramação está ótima, com fonte em bom tamanho e revisão de qualidade. Recomendo ☺

6 comentários:

  1. Amei demais sua resenha, mesmo não acompanhando muitas histórias nesse gênero, fiquei doida para conhecer essa! ❤

    https://www.kailagarcia.com

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  2. Olá
    Gostei da sua resenha e fiquei interessada em ler esse livro, gosto muito de thriller de suspense e esse parece ser muito bom! Com certeza vai para a minha lista de compras.
    Beijinhos
    Renata
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  3. Oi Nessa,
    O mais interessante é que eu nunca imaginaria que essa capa era um thriller, rs. Quando descobri foi um choque e até quero ler para conhecer a escrita da autora premiada.
    beijos
    http://estante-da-ale.blogspot.com/

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  4. Não gostei não :< a resenha é boa, mas não curti, acho que não leria. Bjs

    http://teckafanfics22.blogspot.com/

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  5. Esse livro está na minha lista de desejados já faz um tempo.
    Vi que ele dividiu opiniões rs. agora quero dar uma chance <3

    Sai da Minha Lente

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  6. Olá Nessa,

    Essa é a primeira resenha que leio desse livro, tinha muita curiosidade e agora não tenho dúvidas e pretendo ler futuramente, não gosto da capa..kkk..abraço.

    https://devoradordeletras.blogspot.com/

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