Resenha: A Casa dos Anjos - Antonio Rondinell

O livro A Casa dos Anjos, de Antonio Rondinell, nos narra a trajetória de quatro mulheres diferentes entre si,  que em determinado ponto da vida acabam tendo suas vidas entrelaçadas. A bailarina e coreógrafa Júlia Serrado sente o chão faltar aos seus pés quando sua filha Clara é sequestrada pelo pai e supostamente vendida para outra família. Ela não sabe por onde começar a procurar, já que tudo foi feito de forma rápida e sem deixar arestas. Sua surpresa é imensa quando é procurada por um rapaz desconhecido e muito bem vestido na boate em que trabalha, a Mirage, com uma proposta indecorosa. Júlia teria que assumir a identidade de uma outra pessoa para conseguir informações confidenciais e em troca receberia ajuda para reencontrar sua filha. Ela sabe que isso é imoral e totalmente fora de ética, mas o seu coração incansável e dolorido de mãe não conseguirá se impor a uma oportunidade de reencontrar Clara.

Marina Pessoa abdicou de sua carreira glamourosa de modelo e acabou até mesmo se distanciando da sua família para viver um grande amor ao lado de Donato. Mas o casamento deles vai se deteriorando com o passar do tempo, e o seu marido se mostra uma pessoa avessa as suas opiniões e completamente egoísta. Ela  vê sua vida e seus sonhos desmoronarem, enquanto perde cada dia mais a sua liberdade e identidade, permanecendo enclausurada e tristonha. Isso a está sufocando cada vez mais e fazendo com que gradativamente ela deixe de sentir a verdadeira alegria de viver e se entregue ao fracasso.


A escritora Celina Gondim era usuária de drogas e acabou se envolvendo em um grave acidente automobilístico que a deixou presa a uma cadeira de rodas permanentemente, e ceifou a vida de seu amado marido Vinícius. Além de não poder se locomover e ter problemas até mesmo para falar, ela carrega uma enorme culpa pelo o que aconteceu, e deseja todos os dias não mais viver. Apesar de pertencer a uma família abastada de Fortaleza, sua vida não foi fácil, repleta de mágoas e injustiças, o que a acabou levando a procurar um subterfúgio nas drogas para se afastar do mundo real. Ela precisará buscar novo fôlego de vida para prosseguir em sua caminhada e aprender a se perdoar, acima de tudo, para almejar a felicidade plena.


A dona de casa Clarinda de Holanda acabou se casando com um homem por quem não ama, Alceu, devido a um segredo doloroso e bombástico do seu passado. Se não bastasse conviver todos os dias ao lado de alguém por quem não sente nenhum afeto, ela também é vítima das atrozes agressões físicas do marido, que se tornam cada vez mais insuportáveis. Ela prefere aguentar calada a violência e as humilhações pelas quais passa, pois carrega em si determinadas crenças, que a impedem de denunciar o marido, já que em sua opinião o matrimônio é algo sagrado e não pode ser desfeito, acometendo em um grave pecado caso isso ocorra. Não será fácil se livrar desse pesadelo, já que as suas concepções são totalmente adversas a uma solução.


A escrita de Antonio Rondinell conseguiu me emocionar de forma intensa. Foi o primeiro livro de 2012 que conseguiu me levar as lágrimas. A narrativa é emocionante e repleta de muita sensibilidade. O autor soube tratar de temas atuais como rapto de crianças, violência doméstica, drogas, homossexualismo e deficiência física com maestria, conduzindo o leitor a um bombardeio de emoções.


A estória se passa em Fortaleza, no Ceará, e conseguiu me familiarizar ainda mais com a trama. Tive a oportunidade de conhecer Fortaleza em 2006 e desfrutar de seus pontos turísticos, dentre eles as Praias de Iracema e do Futuro. E ver o enredo se desenrolar em um cenário ao qual você conhece, é magnífico! É um dos muitos pontos positivos a favor da nossa literatura brasileira, e sobretudo, ao livro A Casa dos Anjos.


Os personagens foram bem construídos, beirando ao real, e umas das que mais me conquistaram foi a Júlia e sua determinação e força em busca do que quer. Me emocionei muito com o enredo de Clarissa e Celina também, que foi dotado de muita sensibilidade, ao ponto de se tornar palpável ao leitor. Recomendo, com certeza!