A
IMPRESSÃO DIGITAL NÃO CAUSOU BOA IMPRESSÃO
(Autor:
Antonio Brás Constante)
Conforme pesquisas
científicas baseadas em cálculos matemáticos (ou talvez tenham sido cálculos
matemáticos baseados em pesquisas cientificas), a probabilidade de duas pessoas
terem a mesma impressão digital é de aproximadamente uma em dois bilhões, ou
seja, em um mundo globalizado com quase sete bilhões de indivíduos, a chance de
você ter a mesma digital de outra pessoa está cada vez maior (apesar de ainda
ser infimamente pequena).
Mesmo com este dado dando o
que pensar a nós, seres pensantes, a biometria aliada à informatização neste
nosso planetinha cada vez mais parametrizado e encapsulado por rígidas regras
seladas com a mais pura “BURROcracia” que as criaturas humanas podem criar,
poderão vir a trazer problemas no futuro para aqueles “felizardos” que por
ventura tiverem suas digitais idênticas as de outras pessoas, principalmente se
o sistema biométrico de digitais assumir o posto de identificador máximo dos
seres de nosso presente futuro.
Imagine fulano começando em
um novo serviço todo contente, logo após a entrevista de emprego. Ele chega até
a sala de recursos humanos da empresa e se apresenta para a atendente do setor
de RH. Lá o infeliz felizardo acaba tendo uma estranha surpresa. Algo que
aconteceria mais ou menos assim:
- Olá, bom dia, meu nome é Pedro,
passei na entrevista de emprego e irei começar esta semana na empresa.
- Bom dia senhor Pedro, para
efetivarmos seu cadastramento basta o senhor colocar sua digital neste aparelho
biométrico para confirmar seus dados, ok?
- Claro.
Ele insere sua digital no
aparelho e em poucos instantes as informações começam a escorrer pela tela do
computador. O conteúdo que aparece vai deixando a sobrancelha direita da
atendente levemente sobressaltada (e quem conhece algum funcionário de recursos
humanos, sabe que isso não é um bom sinal). A atendente olha nos olhos do novo
empregado, já recuperada de seu rompante de assombro externado pelo singelo
movimento de sua sobrancelha direita, e diz:
- Bem, infelizmente
houve um pequeno problema, de acordo com a sua analise biométrica o sistema está
informando que o senhor na realidade se chama Paola, é de origem asiática e,
apesar de solteira, está grávida de quatro meses.
- Isso é impossível, deve ser algum
erro do sistema.
- Infelizmente todo o processo de
admissão funcional é baseado em nosso sistema global de informações que é
integrado ao do governo e aferido por ele, sendo considerado à prova de falhas.
De acordo com a sistemática da empresa se há algo errado aqui, provavelmente é a
senhora, e não o sistema.
- Isso quer dizer que não fui
admitido?
- Na realidade a senhora sofreu um
remanejamento interno devido aos novos fatos apresentados pelo sistema, não
trabalhará mais na área de engenharia, mas devido a nossa cota destinada a
imigrantes ilegais, irá ser realocada para trabalhar no setor de limpeza da
fábrica.
- Por favor, pare de me chamar de
“senhora”, eu sou homem...
- tudo bem, nós podemos resolver
facilmente este “detalhe”, já que a empresa dispõe de um ótimo plano médico que
inclui eventuais mudanças de sexo. A propósito, seu pedido para jogar no time de
futebol foi negado, por não aceitarem jogadores de outro sexo, já que o time é
masculino, mas o sistema acabou de cadastrar você nas reuniões semanais do
atelier de crochê.
- Mas, isso está errado, eu sou
homem, entendeu? HOMEM!
- Se a senhora continuar insistindo
em afirmar que seu cadastro no sistema está errado, poderá responder por
falsidade ideológica, com sérios problemas jurídicos e penais contra sua pessoa.
Nossa cota para imigrantes ilegais que queiram se naturalizar, também conta com
um cadastro para auxiliar nos relacionamentos de funcionários de outras
subordinadas, e o seu perfil já recebeu algumas intenções de namoro, inclusive
com propostas de casamento do um empregado do setor três “C” da ala norte da
fábrica 15.
- Mas aqui no meu currículo tem uma
foto minha demonstrando que sou Homem.
- Sim, mas este foi um dos fatores
que parece ter atraído ainda mais o seu pretendente, já marcamos um encontro
entre vocês para o próximo sábado. A propósito, o codinome utilizado no perfil
dele foi “Paulão tripé”, e ele se autodenomina como “armário do amor”.
- Uiiiiii...
Depois de alguns meses,
Pedro finalmente consegue descobrir que havia uma mulher na Ásia chamada de
Paola com a mesma impressão digital que a dele, provando assim que ele era ele
mesmo. Para não perder o emprego e não ser deportado, ele se aproveitou de uma
brecha do sistema e casou-se consigo mesmo, garantindo assim o seu futuro na
empresa.
Hoje em dia o nosso
personagem Pedro vive feliz e bem casado, morando sozinho e fazendo lindos
casaquinhos de crochê, mas diz que não pretende ter filhos. Paulão se tornou seu
melhor amigo, garantindo assim uma amizade que se tornaria de anos entre eles.
FIM.
Nenhum comentário:
Postar um comentário