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10/03/2011

ENTREVISTA: Pablo Gonzalez, autor de Aqui Estão Os Tigres

Boa tarde pessoal! O escritor Pablo Gonzalez, autor de Aqui Estão Os Tigres, concedeu uma entrevista exclusiva ao Nessa News. Confiram!


SOBRE O AUTOR:

Pablo Gonzalez nasceu em São José dos Campos, no estado de São Paulo. Tem formação em Cinema, Filosofia e Economia.

ENTREVISTA:


Como surgiu a idéia de se tornar escritor?
Em 1998, quando morava em Curitiba, larguei um curso de Análise de Sistemas na PUC-PR (estava no segundo ano) para estudar Cinema na ArtCine, uma escola de Cinema que não existe mais, e comecei a escrever roteiros. Posteriormente, ao descobrir autores como Albert Camus, Oscar Wilde, Kafka, Dostoiévski e Hermann Hesse, abandonei os roteiros para mergulhar de cabeça no romance. Nunca me dei muito bem com a linguagem do roteiro, que é extremamente técnica. Além disso, o roteirista desenvolve uma arte incompleta, já que o produto final é o filme; o seu trabalho é apenas uma etapa de um longo processo criativo, que requer a participação de uma quantidade absurda de pessoas, e isso me deixava frustrado. De qualquer maneira, foi assim que comecei a escrever. Acho que a vocação do escritor não surge exatamente de uma ideia, é mais uma espécie de intuição, mas ao mesmo tempo é algo que você vai cultivando aos poucos. Eu devo muito a pessoas que me estimularam a apreciar a arte quando era criança, em especial o meu pai, o meu irmão gêmeo, as minhas primas e alguns amigos. A arte é uma coisa contagiante. Quando você convive com alguém que gosta muito de música, cinema, literatura, artes plásticas, dança, teatro ou tudo isso ao mesmo tempo, o entusiasmo dessa pessoa se transfere rapidamente para você. Também gostaria de mencionar um professor de História da Arte que tive na ArtCine, o Fernando Bini, cujas aulas foram extremamente enriquecedoras para mim, e isso num período crucial da minha vida, quando eu estava ávido para expandir os meus conhecimentos, um período de grandes descobertas.

 Qual foi a sua inspiração para escrever Aqui Estão Os Tigres?
Esse livro é bastante introspectivo e experimental. Eu estava brincando com a ideia de que, quando lemos um romance, o narrador, de certa forma, começa a desenhar na nossa cabeça. Por isso criei um narrador desenhista. Os seus desenhos são reflexões, ele está tentando esquecer uma garota, um relacionamento que não deu certo, mas às vezes ele desenha simplesmente para se distrair, e aí inventa as coisas mais malucas, revive experiências subvertendo a lógica dos fatos, muda de corpo, cruza-se o tempo todo com um fantasma e perambula pelos seus sonhos. Eu tenho certa facilidade para me lembrar de sonhos. Utilizei o meu próprio inconsciente como uma fonte de imagens, cenários e situações. É incrível como o cérebro de um leitor consegue criar atmosferas complexas a partir de uma quantidade pequena de dados.

Você enfrentou muitas dificuldades para publicar o seu livro?
Com certeza. Hoje em dia, porém, com a revolução das pequenas tiragens, a grande dificuldade do novo autor é gerar uma demanda inicial. No começo, a gente só vende para familiares e amigos. Depois, as vendas empacam. É frustrante. Divulgar dá muito mais trabalho do que escrever ou publicar. É por isso que a blogosfera literária ganha valor a cada dia. Fazer parcerias com blogs de qualidade, como o seu, é fundamental.

Quais são os seus autores preferidos?
Já mencionei os que foram importantes no começo da minha trajetória: Albert Camus, Oscar Wilde, Kafka, Dostoiévski e Hermann Hesse. Atualmente, tenho grande admiração por autores que levaram a linguagem do romance a diferentes extremos, como James Joyce, Samuel Beckett, Marcel Proust, William Faulkner, Jack Kerouac, Lewis Carroll e Thomas Mann. Outros que estão entre os meus favoritos são Graciliano Ramos, Borges, Salinger, Tchekhov, August Strindberg, Ítalo Calvino, William Golding, Fernando Sabino, Virgínia Woolf, Garcia Márquez, Hemingway e Fitzgerald. De uns tempos para cá, tenho procurado equilibrar a leitura de clássicos com contemporâneos (ou quase contemporâneos) como Paul Auster, Philip Roth, John Berger, Ian McEwan, Milan Kundera, Bernhard Schlink, Carlos Heitor Cony, João Gilberto Noll e Moacyr Scliar (o grande escritor gaúcho que faleceu no mês passado). Cristovão Tezza, Bernardo Carvalho, Luiz Ruffato e Daniel Galera são os próximos autores que quero conhecer. Além disso, tenho um interesse crescente por autores da minha própria geração, que é a primeira geração pós-internet.

Quais são os seus livros prediletos?
Vou fazer um pequeno TOP 10, tudo bem? Antes de começar com a contagem regressiva, porém (escolher apenas dez não foi nada fácil), aqui vão algumas menções honrosas. O Grande Gatsby (Francis Scott Fitzgerald), O Inominável (Samuel Beckett), O Estrangeiro (Albert Camus), Em Busca do Tempo Perdido (Marcel Proust), As Cores da Infâmia (Albert Cossery), Dom Casmurro (Machado de Assis), Cândido (Voltaire), O Idiota (Dostoiévski), Lolita (Nabokov), Mrs Dalloway (Virgínia Woolf), O Lobo da Estepe (Hermann Hesse), A Pérola (John Steinbeck), A Montanha Mágica (Thomas Mann), O Valete de Espadas (Gerardo Mello Mourão), Enquanto Agonizo (William Faulkner), O Sol Também se Levanta (Ernest Hemingway), Cem Anos de Solidão (Grabriel Garcia Marquez), O Último Dia de Um Condenado (Victor Hugo) e O Apanhador no Campo de Centeio (J. D. Salinger). Todos esses livros são extremamente valiosos para mim, mas agora vamos aos dez principais...
10. Os Cadernos de Malte Laurids Brigge, de Rainer Maria Rilke. Um formidável romance em estilo expressionista. Foi uma leitura marcante para mim, uma experiência que mudou todo o meu conceito de linguagem.
9. O Retrato, de Nikolai Gogol. Uma novela, ou conto longo, que ilustra de maneira magistral o grande dilema do artista: vender-se ou permanecer fiel aos princípios.
8. As Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino. Uma obra prima da descrição. Um livro que não me canso de reler. Tenho todas essas cidades na cabeça.
7. Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Para mim, o melhor livro já escrito por um brasileiro. Todos os parágrafos são perfeitos.
6. A Estepe, de Anton Tchekhov. Uma aula de literatura. Você acompanha a viagem de um menino pela estepe russa e vê as coisas que ele vai aprendendo no caminho. A ideia é bem simples, mas esse livro tem uma força monumental.
5. Ficções, de Jorge Luis Borges. Ninguém é mais inventivo do que o Borges. E ele inventou lugares mágicos, como a Biblioteca de Babel, uma biblioteca infinita, que todos os amantes da literatura devem visitar.
4. O Castelo, de Franz Kafka. Li este livro fantástico em 2002, quando morava em Santa Maria (RS). No meio da leitura, por causa de uma forte chuva, o meu prédio ficou sem energia elétrica. Continuei lendo com uma lanterninha. Li várias páginas assim. Não conseguia parar.
3. Um Retrato do Artista Quando Jovem, de James Joyce. Antes de ler este livro, eu já havia abandonado a leitura do Ulisses duas vezes. Acho que a grande dificuldade com o Joyce (o principal pilar do romance psicológico) é aprender a apreciá-lo. E o mapa da mina, para mim, foi Um Retrato do Artista Quando Jovem.
2. Quatro Quartetos, de T. S. Eliot. Todos os livros da minha lista, até aqui, incluindo os que receberam menção honrosa, são romances ou novelas. Mas para as duas primeiras posições me vi obrigado a recorrer a um poeta e a um dramaturgo. A medalha de prata vai para Quatro Quartetos, do Eliot, que é sublime.
1. Hamlet, de William Shakespeare. O Hamlet, para mim, é um estado mental. Todos nós temos pensamentos profundos de vez em quando, todos nós refletimos sobre os mistérios da vida e da morte, de vez em quando, mas se você vive continuamente nesse estado, então, meus parabéns, você é um Hamlet.

Teve alguma banda ou música que te inspirou durante a confecção do livro?
Ouvir U2 é sempre uma coisa inspiradora para mim. Tenho uma forte identificação com essa banda, que acompanho desde 1989. Aliás, estou muito ansioso pela nova visita deles ao Brasil, no mês que vem (já tenho o meu ingresso!). Também costumo escrever ouvindo música clássica, em especial Bach e Beethoven.

Quais são os seus projetos futuros?
A longo prazo, o meu objetivo é construir uma bibliografia que seja interessante e original, com livros que tenham alguma relevância artística. Mas isso não é nenhuma obsessão. O principal é que estou fazendo o que amo: escrever. Depois de publicar Aqui Estão Os Tigres, já concluí outro romance. Pretendo lançá-lo no segundo semestre.

Deixe um recado para os seguidores do Nessa News.
O meu recado é que vocês continuem sempre surfando nesta onda tão gostosa que é o Nessa News, porque a blogosfera literária já representa, sem dúvida, uma grande revolução na vida cultural do país, e a Vanessa é uma dessas pessoas que estão escrevendo este novo capítulo da nossa história. Para terminar, gostaria de citar um trecho do texto A Leitura Como Aventura e Paixão, do Moacyr Scliar (ele publicou este texto no seu blog pessoal, em novembro do ano passado). “Meu aprendizado como leitor passou por livros que depois considerei tolos ou ruins. Mas isso foi útil para que eu pudesse aprender a formar o meu juízo crítico. Na leitura, a gente avança pelo método de tentativa e erro, de aproximações sucessivas. Em resumo, proibir ou censurar, não. Recomendar, debater, ensinar, sim. Vivemos num mundo cheio de imperfeições e perigos, e o que podemos fazer com nossos filhos e alunos é ensiná-los a navegar por esse mar turbulento, em navios cujas velas são as páginas da grande literatura. Ler é aventura, ler é paixão.” (Moacyr Scliar - A Leitura Como Aventura e Paixão).




4 comentários:

  1. Obrigada Cássia! Vou colocar o seu banner na parte de blogs amigos do Nessa News. Beijos!

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  2. Adorei a entrevista, eu não li o livro mas se o autor se inspira na forma de escrever destes autores do seu TOP 10 tenho certeza que vou amar.
    Parabéns pela entrevista Nessa.

    x.X
    Heloo Fontinelly
    ~Megazone Brasil~

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  3. Fico feliz que tenha gostado da entrevista Heloo! O livro do Pablo Gonzalez realmente é muito bom!
    Beijos!

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