SOBRE O AUTOR:
Pablo Gonzalez nasceu em São José dos Campos, no estado de São Paulo. Tem formação em Cinema, Filosofia e Economia.
ENTREVISTA:
Como surgiu a idéia de se tornar escritor?
Em 1998, quando morava em Curitiba, larguei um curso de Análise de Sistemas
na PUC-PR (estava no segundo ano) para estudar Cinema na ArtCine, uma escola de
Cinema que não existe mais, e comecei a escrever roteiros. Posteriormente, ao
descobrir autores como Albert Camus, Oscar Wilde, Kafka, Dostoiévski e Hermann
Hesse, abandonei os roteiros para mergulhar de cabeça no romance. Nunca me dei
muito bem com a linguagem do roteiro, que é extremamente técnica. Além disso, o
roteirista desenvolve uma arte incompleta, já que o produto final é o filme; o
seu trabalho é apenas uma etapa de um longo processo criativo, que requer a
participação de uma quantidade absurda de pessoas, e isso me deixava frustrado.
De qualquer maneira, foi assim que comecei a escrever. Acho que a vocação do
escritor não surge exatamente de uma ideia, é mais uma espécie de intuição, mas
ao mesmo tempo é algo que você vai cultivando aos poucos. Eu devo muito a
pessoas que me estimularam a apreciar a arte quando era criança, em especial o
meu pai, o meu irmão gêmeo, as minhas primas e alguns amigos. A arte é uma coisa
contagiante. Quando você convive com alguém que gosta muito de música, cinema,
literatura, artes plásticas, dança, teatro ou tudo isso ao mesmo tempo, o
entusiasmo dessa pessoa se transfere rapidamente para você. Também gostaria de
mencionar um professor de História da Arte que tive na ArtCine, o Fernando Bini,
cujas aulas foram extremamente enriquecedoras para mim, e isso num período
crucial da minha vida, quando eu estava ávido para expandir os meus
conhecimentos, um período de grandes descobertas.
Qual foi a sua inspiração para escrever Aqui Estão Os Tigres?
Esse livro é bastante introspectivo e experimental. Eu estava brincando com
a ideia de que, quando lemos um romance, o narrador, de certa forma, começa a
desenhar na nossa cabeça. Por isso criei um narrador desenhista. Os seus
desenhos são reflexões, ele está tentando esquecer uma garota, um relacionamento
que não deu certo, mas às vezes ele desenha simplesmente para se distrair, e aí
inventa as coisas mais malucas, revive experiências subvertendo a lógica dos
fatos, muda de corpo, cruza-se o tempo todo com um fantasma e perambula pelos
seus sonhos. Eu tenho certa facilidade para me lembrar de sonhos. Utilizei o meu
próprio inconsciente como uma fonte de imagens, cenários e situações. É incrível
como o cérebro de um leitor consegue criar atmosferas complexas a partir de uma
quantidade pequena de dados.
Você enfrentou muitas dificuldades para publicar o seu livro?
Com certeza. Hoje em dia, porém, com a revolução das pequenas tiragens, a
grande dificuldade do novo autor é gerar uma demanda inicial. No começo, a gente
só vende para familiares e amigos. Depois, as vendas empacam. É frustrante.
Divulgar dá muito mais trabalho do que escrever ou publicar. É por isso que a
blogosfera literária ganha valor a cada dia. Fazer parcerias com blogs de
qualidade, como o seu, é fundamental.
Quais são os seus autores preferidos?
Já mencionei os que foram importantes no começo da minha trajetória: Albert
Camus, Oscar Wilde, Kafka, Dostoiévski e Hermann Hesse. Atualmente, tenho grande
admiração por autores que levaram a linguagem do romance a diferentes extremos,
como James Joyce, Samuel Beckett, Marcel Proust, William Faulkner, Jack Kerouac,
Lewis Carroll e Thomas Mann. Outros que estão entre os meus favoritos são
Graciliano Ramos, Borges, Salinger, Tchekhov, August Strindberg, Ítalo Calvino,
William Golding, Fernando Sabino, Virgínia Woolf, Garcia Márquez, Hemingway e
Fitzgerald. De uns tempos para cá, tenho procurado equilibrar a leitura de
clássicos com contemporâneos (ou quase contemporâneos) como Paul Auster, Philip
Roth, John Berger, Ian McEwan, Milan Kundera, Bernhard Schlink, Carlos Heitor
Cony, João Gilberto Noll e Moacyr Scliar (o grande escritor gaúcho que faleceu
no mês passado). Cristovão Tezza, Bernardo Carvalho, Luiz Ruffato e Daniel
Galera são os próximos autores que quero conhecer. Além disso, tenho um
interesse crescente por autores da minha própria geração, que é a primeira
geração pós-internet.
Quais são os seus livros prediletos?
Vou fazer um pequeno TOP 10, tudo bem? Antes de começar com a contagem
regressiva, porém (escolher apenas dez não foi nada fácil), aqui vão algumas
menções honrosas. O Grande Gatsby (Francis Scott Fitzgerald), O Inominável
(Samuel Beckett), O Estrangeiro (Albert Camus), Em Busca do Tempo Perdido
(Marcel Proust), As Cores da Infâmia (Albert Cossery), Dom Casmurro (Machado de
Assis), Cândido (Voltaire), O Idiota (Dostoiévski), Lolita (Nabokov), Mrs
Dalloway (Virgínia Woolf), O Lobo da Estepe (Hermann Hesse), A Pérola (John
Steinbeck), A Montanha Mágica (Thomas Mann), O Valete de Espadas (Gerardo Mello
Mourão), Enquanto Agonizo (William Faulkner), O Sol Também se Levanta (Ernest
Hemingway), Cem Anos de Solidão (Grabriel Garcia Marquez), O Último Dia de Um
Condenado (Victor Hugo) e O Apanhador no Campo de Centeio (J. D. Salinger).
Todos esses livros são extremamente valiosos para mim, mas agora vamos aos dez
principais...
10. Os Cadernos de Malte Laurids Brigge, de Rainer Maria Rilke. Um
formidável romance em estilo expressionista. Foi uma leitura marcante para mim,
uma experiência que mudou todo o meu conceito de linguagem.
9. O Retrato, de Nikolai Gogol. Uma novela, ou conto longo, que
ilustra de maneira magistral o grande dilema do artista: vender-se ou permanecer
fiel aos princípios.
8. As Cidades Invisíveis, de Ítalo Calvino. Uma obra prima da
descrição. Um livro que não me canso de reler. Tenho todas essas cidades na
cabeça.
7. Vidas Secas, de Graciliano Ramos. Para mim, o melhor livro já
escrito por um brasileiro. Todos os parágrafos são perfeitos.
6. A Estepe, de Anton Tchekhov. Uma aula de literatura. Você
acompanha a viagem de um menino pela estepe russa e vê as coisas que ele vai
aprendendo no caminho. A ideia é bem simples, mas esse livro tem uma força
monumental.
5. Ficções, de Jorge Luis Borges. Ninguém é mais inventivo do que o
Borges. E ele inventou lugares mágicos, como a Biblioteca de Babel, uma
biblioteca infinita, que todos os amantes da literatura devem visitar.
4. O Castelo, de Franz Kafka. Li este livro fantástico em 2002,
quando morava em Santa Maria (RS). No meio da leitura, por causa de uma forte
chuva, o meu prédio ficou sem energia elétrica. Continuei lendo com uma
lanterninha. Li várias páginas assim. Não conseguia parar.
3. Um Retrato do Artista Quando Jovem, de James Joyce. Antes de ler
este livro, eu já havia abandonado a leitura do Ulisses duas vezes. Acho que a
grande dificuldade com o Joyce (o principal pilar do romance psicológico) é
aprender a apreciá-lo. E o mapa da mina, para mim, foi Um Retrato do Artista
Quando Jovem.
2. Quatro Quartetos, de T. S. Eliot. Todos os livros da minha lista,
até aqui, incluindo os que receberam menção honrosa, são romances ou novelas.
Mas para as duas primeiras posições me vi obrigado a recorrer a um poeta e a um
dramaturgo. A medalha de prata vai para Quatro Quartetos, do Eliot, que é
sublime.
1. Hamlet, de William Shakespeare. O Hamlet, para mim, é um estado
mental. Todos nós temos pensamentos profundos de vez em quando, todos nós
refletimos sobre os mistérios da vida e da morte, de vez em quando, mas se você
vive continuamente nesse estado, então, meus parabéns, você é um Hamlet.
Teve alguma banda ou música que te inspirou durante a confecção do
livro?
Ouvir U2 é sempre uma coisa inspiradora para mim. Tenho uma forte
identificação com essa banda, que acompanho desde 1989. Aliás, estou muito
ansioso pela nova visita deles ao Brasil, no mês que vem (já tenho o meu
ingresso!). Também costumo escrever ouvindo música clássica, em especial Bach e
Beethoven.
Quais são os seus projetos futuros?
A longo prazo, o meu objetivo é construir uma bibliografia que seja
interessante e original, com livros que tenham alguma relevância artística. Mas
isso não é nenhuma obsessão. O principal é que estou fazendo o que amo:
escrever. Depois de publicar Aqui Estão Os Tigres, já concluí outro romance.
Pretendo lançá-lo no segundo semestre.
Deixe um recado para os seguidores do Nessa News.
O meu recado é que vocês continuem sempre surfando nesta onda tão gostosa
que é o Nessa News, porque a blogosfera literária já representa, sem dúvida, uma
grande revolução na vida cultural do país, e a Vanessa é uma dessas pessoas que
estão escrevendo este novo capítulo da nossa história. Para terminar, gostaria
de citar um trecho do texto A Leitura Como Aventura e Paixão, do Moacyr Scliar
(ele publicou este texto no seu blog pessoal, em novembro do ano passado). “Meu
aprendizado como leitor passou por livros que depois considerei tolos ou ruins.
Mas isso foi útil para que eu pudesse aprender a formar o meu juízo crítico. Na
leitura, a gente avança pelo método de tentativa e erro, de aproximações
sucessivas. Em resumo, proibir ou censurar, não. Recomendar, debater, ensinar,
sim. Vivemos num mundo cheio de imperfeições e perigos, e o que podemos fazer
com nossos filhos e alunos é ensiná-los a navegar por esse mar turbulento, em
navios cujas velas são as páginas da grande literatura. Ler é aventura, ler é
paixão.” (Moacyr Scliar - A Leitura Como Aventura e Paixão).
já tenho seu banner só colocar o meu.
ResponderExcluirObrigada Cássia! Vou colocar o seu banner na parte de blogs amigos do Nessa News. Beijos!
ResponderExcluirAdorei a entrevista, eu não li o livro mas se o autor se inspira na forma de escrever destes autores do seu TOP 10 tenho certeza que vou amar.
ResponderExcluirParabéns pela entrevista Nessa.
x.X
Heloo Fontinelly
~Megazone Brasil~
Fico feliz que tenha gostado da entrevista Heloo! O livro do Pablo Gonzalez realmente é muito bom!
ResponderExcluirBeijos!