Resenha: Quando Você Voltar - Kristin Hannah

Título original: Home front
Gênero: Romance
Páginas: 352
Editora: Arqueiro
Classificação: 5/5 ♥

O livro Quando Você Voltar, da americana Kristin Hannah - autora com mais de 8 milhões de livros vendidos -, nos traz um romance emocionante e tocante sobre família, guerra e, acima de tudo, amor e cumplicidade. Apesar de tratar de um tema espinhoso como a Guerra do Iraque, Kristin Hannah descortina o seu enredo com suavidade e sensibilidade, nos envolvendo em sua trama e na história de vida de seus personagens, por sinal, muito bem talhados.

Tal como tantos casais, Jolene e Michael veem seu relacionamento de doze anos se desgastando devido aos problemas e pressões do dia a dia. Totalmente alheio à vida familiar, Michael mergulha cada vez mais no trabalho, não dando a devida atenção para as filhas, Betsy e Lulu, além de não demonstrar o menor apoio para a carreira militar da esposa, até que Jolene acaba sendo convocada para a Guerra do Iraque. Mãe zelosa e patriota na mesma medida, ela sabe que tem um dever a cumprir para com o seu país e mesmo angustiada por se afastar daqueles que ama, deixa os cuidados das filhas a cargo do marido e segue para o front de batalha. O que Jolene não imaginava era que essa experiência iria mudar para sempre sua vida e a de toda a família, de um modo que ninguém poderia prever.


Frente a frente com a guerra, ela se separa com a dura realidade e precisa recorrer a toda sua força e inteligência para sobreviver e se tornar uma heroína em meio ao caos. Nas cartas que escreve para a família, ela pinta um mundo cor-de-rosa, totalmente oposto aos horrores que vem enfrentando, querendo poupar aqueles que ama de seu sofrimento. Porém, toda guerra tem o seu preço e Jolene acaba se tornando protagonista de uma terrível tragédia, que irá fazer com que Michael encare seus medos mais profundos e sustente as rédeas da situação em nome de sua família.

Quando Você Voltar é um livro intenso e tocante, que relata os horrores enfrentados no front de uma guerra, bem como todo o poder do amor e da cumplicidade. Enaltecendo o patriotismo do povo americano - que abandona seus lares e suas famílias para lutar pelo bem-estar e pela paz de outros tantos -, Kristin Hannah nos traça um panorama brutal da guerra, além de sintetizar as crises familiares, que acabam se atenuando com a rotina e o estresse do cotidiano. Narrado em terceira pessoa de forma ampla e bem envolvente, o enredo tem uma conotação bem atual e mostra toda a beleza e a grandeza presentes no amor, na amizade e na família.

Jolene é uma mulher forte, vibrante e que ama sua família mais do que tudo. Piloto de helicóptero do exército, ela não se sente devidamente apoiada na profissão pelo marido e a crise entre o casal se agrava ainda mais quando ela é convocada para servir no Iraque. Com o coração em frangalhos, ela parte para a guerra, sabendo que a sua longa distância da família é o preço a se pagar pela segurança e pacificidade de outras crianças e lares. No front de batalha, ela retrata para as filhas um cenário completamente diferente daquele que se descortina, sangrento e coberto de fragmentos de bombas e partes de corpos. Tami é a sua melhor amiga e também colega de profissão, e é justamente nela que Jolene encontra apoio e uma confidente para tudo aquilo que vem enfrentando. Quando finalmente volta para o lar, a piloto não é mais a mesma pessoa de outrora e traz na bagagem latejantes feridas emocionais e físicas. Mais do que nunca, ela irá precisar de todo o apoio, carinho, paciência e acolhida de sua família, mesmo que relute em receber os sentimentos deles. Jolene é uma personagem que amadureceu com a dor e que, como consequência, se tornou uma mulher dura e incapaz de demonstrar os seus sentimentos em palavras. Ela busca ser uma verdadeira fortaleza em todos os instantes, demonstrando uma força interior que nada mais é do que uma camuflagem para esconder de todos o seu sofrimento e aflição. Além de sintetizar bem os transtornos e efeitos da pós-guerra, a protagonista de Kristin Hannah nos revela a exaustão emocional de tentar ser forte o tempo todo - uma das mazelas que atinge a nossa sociedade e que ainda acaba gerando incompreensão em boa parte das pessoas.

"Ou o amor estava lá, ardente como fogo, ou estava morto, frio feito cinzas."

Michael foi um personagem que me surpreendeu bastante. No começo da trama, ele me causou muita antipatia devido ao egoísmo e aos seus traços machistas. Porém, quando Jolene e sua família mais precisaram, ele virou um outro homem: solícito, cuidadoso e carinhoso. Sua transformação, é claro, não ocorreu do dia para a noite, mas foi sendo maturada pouco a pouco e tendo um desdobramento fundamental no enredo. Betsy e Lulu são duas menininhas fofas e o amor pueril delas pela mãe é incrivelmente encantador e comovente.

"Caminhe sereno por entre o barulho e a pressa e lembre-se da paz que pode haver no silêncio."

Em suma, Quando Você Voltar é daquele tipo de livro que te envolve do início ao fim, além de te emocionar ao ponto de verter lágrimas e soluços. Com uma escrita suave, delicada e permeada de sentimentos, Kristin Hannah nos traz um romance arrebatador, que mostra os terrores da guerra e todo o poder restaurador e o amor presentes no seio da família. A capa é simples, com a desfocada imagem de uma família na beira da praia e de um lampião ao pé da escada e a diagramação está ótima, com fonte em bom tamanho e revisão de qualidade. Recomendo, com certeza!